29 novembro, 2008

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20 novembro, 2008

BLINDNESS




O CEGO É O LOBO DO CEGO

Por WELLINGTON MACHADO DE CARVALHO
28/10/2008

Há no filme Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles - baseado no romance homônimo do português José Saramago -, várias interpretações sobre a metáfora proposta. Escrever alegoricamente é a especialidade de Saramago. A maioria de suas obras são também ensaios metafóricos sobre os (pressupostos) disparates da sociedade na qual vivemos: o consumismo, o individualismo, os excessos do capitalismo. Diante da complexidade de qualquer adaptação literária para o cinema, a tarefa de Meirelles mostrou-se corajosa.

Muitos acharam o filme complexo, mas a história é linear e simples. Em uma cidade qualquer, aparentemente bem-sucedida economicamente (carros reluzentes, apartamentos modernos), pessoas começam a ficar cegas inexplicavelmente. Uma cegueira branca. As autoridades sanitárias, diante do desconhecimento científico das causas da epidemia, resolvem isolar essas pessoas em um galpão sujo e abandonado. Há pessoas de todo tipo: um médico, uma criança, um ladrão, idosos. Só uma pessoa não é acometida pela moléstia: a mulher do médico – que consegue se infiltrar entre os cegos para proteger seu marido. Simples assim.

Há pelo menos dois aspectos a se analisar: (1) a cegueira em si e (2) a condição das próprias pessoas enquanto cegas. Quem conhece um pouco da obra de Saramago deduz que a tal cegueira (1) é uma metáfora da condição humana contemporânea, uma certa impotência dos indivíduos diante da supremacia do econômico sobre o político. Não temos, individualmente, muito o que fazer. O Estado não é mais soberano, pois depende do fluxo financeiro mundial. Se não podemos agir politicamente, estamos cegos perante o complicado linguajar das transações econômicas intercontinentais.

A cegueira também pode sugerir uma “desfocalização” de alguns indivíduos – ou sociedades -, perdidos em meio à voracidade capitalista, à exagerada exaltação tecnológica e à globalização. São cegos os que rejeitam esse caminho ou os alienados. Como não há outro caminho a ser seguido, qualquer resistência é vista como anacrônica: são cegos os que perderam o bonde da história do dinamismo social. Há nessa tese, portanto, um flerte com o “Mito da Caverna”, de Platão. Saramago volta ao tema em outro livro não menos importante: A Caverna (2000).

Mas… não seria a cegueira uma punição? Um castigo ao desprezo de uma minoria abastada (os cegos) pelo bem-estar coletivo? Os cegos, neste caso, não seriam a “vingança” de Saramago? Há de se considerar que Saramago é um humanista, um crítico ferrenho do neoliberalismo - grosso modo, os ricos ficam mais ricos e estão se lixando para os pobres. Ideologias à parte, tudo o que foi pensado até aqui não é evidenciado no filme de Meirelles. Conhecer a obra de Saramago amplia imensamente a percepção do ponto de vista do diretor.

Mas o melhor do filme está por vir. O que até então era especulação filosófica torna-se evidência: a condição (2) das pessoas enquanto cegas. A alegoria neste momento muda de foco. Os cegos são alojados em um galpão enorme (uma “cidade”). Há crianças, velhos, negros, orientais, gente de todo lugar (globalização). Com o aumento da quantidade de cegos começa a faltar comida. Formam-se, então, dois grupos (“classes sociais”), onde os “mais fortes” – que detêm o controle da comida - começam a fazer exigências materiais aos “mais fracos” em troca de alimento. As autoridades, impotentes em detectar as causas científicas da moléstia, evacuam a cidade e recolhem os soldados que faziam a guarda do galpão de cegos (“Estado ausente”). Findos os objetos, os “mais fortes” exigem as mulheres do outro grupo (sexo como moeda). Há revolta e guerra na “cidade”. Algo nos remete ao “homem lobo do homem” de Hobbes?

O maior mérito de Fernando Meirelles, além de conseguir narrar equilibradamente uma história com tantos elementos, foi captar no livro os principais momentos da falência, da perversidade humana, e transformar isso em estética. A fotografia esbranquiçada, um olho-mágico visto pelo lado de fora, mulheres caminhando atrás de um vidro fosco a caminho do estupro, a trilha sonora enxuta. Tudo comprova o domínio de Meirelles sobre recursos de que dispõe e seu arsenal criativo. Com uma leitura cuidadosa do livro de Saramago cria-se um “filme mental” bem próximo do que o que Meirelles fez.

Há uma corrente que insiste em partir para a ideologização do filme, amparada no fato de Saramago ser “de esquerda” – se é que isso ainda existe. Diante de todos os problemas da contemporaneidade (pedofilia, poluição, violência, drogas, egoísmo etc.), ter um contraponto como Saramago (livro) ou Meirelles (filme) é bom para estimular o debate.

18 novembro, 2008

VICKY CRISTINA BARCELONA


ENTRE A VONTADE E O DESEJO

Por LUIZ FERNANDO GALLEGO
14/11/2008

(Texto escrito durante o Festival do Rio 2008)

A voz em off de um narrador em tom “indiferente” (quase como em alguns muito antigos cinejornais) lembra bastante o recurso usado por Truffaut em Jules e Jim, assim como uma breve tomada em traveling sobre três personagens passeando de bicicleta: aqui, duas mulheres e um homem – embora as combinações bem variadas incluam outro casal, formando uma ciranda amorosa/sexual (‘La ronde’?) que tanto pode remeter a Truffaut como a algo de Eric Rohmer – só que um Rohmer bem mais engraçado e menos blasé.

Vicky Cristina Barcelona faz rir como há tempos não se ria tão bem em comédias de Woody Allen, mas tal como nos cineastas franceses que ele certamente cultua, o sabor doceamargo se faz presente na discussão entre desejo (”que não tem descanso nem nunca terá”) e – digamos – vontade (aqui entendida como escolha racional e lógica).

É impressionante a habilidade do roteiro que propicia a encenação de situações cômicas sobre questões “sérias” – especialmente para a personagem de ‘Vicky’, muito bem defendida por Rebecca Hall que consegue evitar o estereótipo de “moça certinha” confrontada com a sedução da transgressão.

Já Scarlett Johansson segue a máxima de Oscar Wilde: “Posso resistir a tudo, menos às tentações”. No caso, a tentação/transgressão das moças está encarnada em Javier Barden que consegue o tom exato para que seu personagem tenha aspectos “caricaturais sutis” – se é possível tal oxímoro na linguagem; mas o paradoxo é plenamente possível na interpretação inspirada do ator. Já Penélope Cruz é toda garra e destempero na personagem mais histriônica de todas. Quando ela roda a baiana em espanhol Barden quase cria um bordão ao repreendê-la a todo momento dizendo “Speak in English, Maria Elena!”.

Este clima mais ibérico-passional (com uma pitada de Almodóvar) se apresenta bem diverso nos papéis menores de Chris Messina – que evita o clichê “yuppie” para o noivo tradicional de ‘Vicky’ - e de Patrícia Clarkson, emprestando a habitual eficiência de sua persona com ares bovaristas de meia-idade. Ou seja, um elenco que faz jus aos personagens e situações espertas do enredo.

Há muitos anos, quando Woody Allen era mais conhecido no Brasil como apenas um “tipo” cômico, até quase apenas em filmes dirigidos por terceiros (mesmo que com história escrita por ele, caso de Sonhos de um Sedutor), estávamos longe de imaginar o cineasta importante em que ele se transformaria. Depois de chamar atenção como diretor de comédias, o grande salto veio com Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), para muitos, ainda sua obra mais signifcativa. Na época, este resenhista pensou entrever algo truffautiano no filme que recebeu Oscars de destaque, mas o prestígio conseguido permitiu a Allen a liberdade de mostrar suas grandes preferências por Bergman (Interiores, A Outra, o subestimado Setembro) e Fellini (Stardust Memories como um semi-8 ½, Era do Rádio como seu Amarcord e Simplesmente Alice como sua Julieta dos espíritos).

Poucas vezes depois de Annie Hall Allen mereceria admiração praticamente unânime como se deu com Hannah e suas Irmãs, que também equilibrava leveza aparente com densidade - sem precisar ser apenas “dramático”. Talvez Vicky Cristina Barcelona, ao emular Truffaut, confirme o que se deixava entrever em Annie Hall e faça desta nova experiência de Allen um filme que fique como um dos bem equilibrados entre humor e seriedade em sua carreira.

Destaca-se ainda a fotografia do sempre competente Javier Aguirresarobe (de Mar Adentro, Fantasmas de Goya, Os Outros, Fale com Ela, etc), tanto nos interiores como nos exteriores de Barcelona e Oviedo, cidades onde se passa o filme em um verão que parece não ter fim.

08 novembro, 2008

01 novembro, 2008

Clarice Lispector

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."